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Empresária do Afeganistão revela que viveu durante 10 anos como menino para fugir dos costumes islâmicos

Empresária do Afeganistão revela que viveu durante 10 anos como menino para fugir dos costumes islâmicos

Jornalismo
Por Jornalismo | 30 de dezembro de 2023

Após sofrer ameaça de um desconhecido, aos quatro anos de idade, a jovem Nilofar Ayoubi, de 27 anos, teve que assumir uma figura masculina durante 10 anos, para fugir da repressão do grupo Talibã, no Afeganistão. Na época mulheres sobreviviam a uma série de restrições por meio da Sharia, lei baseada nos costumes islâmicos.

Entre as medidas, o governo talibã proibiu mulheres de estudarem, trabalharem, e até mostrarem o rosto e andarem sozinhas em público.

Em entrevista à BBC, Ayoubi contou que a decisão de esconder sua identidade foi tomada por seu pai, quando soube que um homem apalpou o peito dela procurando por “sinais de feminilidade”. Com o ato, o estranho ainda deu um tapa no rosto e em seguida ameaçou que, se ela não usasse um véu, atacaria a família dela da próxima vez.

“Cheguei em casa chorando, meu pai ficou vermelho de raiva”, disse. Foi então que o pai da garota tomou uma decisão. “Ele pegou uma tesoura, cortou meu cabelo e disse à minha mãe: ‘Vista-a como um menino’”, lembrou Ayoubi.


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A jovem, nascida em 1996, conta que sentiu mais liberdade ao assumir a aparência masculina.

“Como menino, você automaticamente tem poder, mesmo sendo uma criança de 2 anos. Isso significa que você recebe mais respeito do que a mãe que lhe deu à luz. A partir dos 4 anos, você pode se tornar acompanhante legal da mulher que te trouxe ao mundo. Ela é sua escrava.”, conta. “Se você é mulher, fica invisível”, reflete Ayoubi.

Após as novas vestimentas, a jovem conta que percebeu a diferença no tratamento até mesmo dentro de casa. As irmãs tinham que cobrir os cabelos e usar roupas longas, escondendo todo o corpo, além de se manter a maior parte do tempo em casa, ocupadas, e em silêncio. Enquanto isso, Ayoubi podia ter aulas de caratê e judô e era livre para brincar na rua.

“Comecei a receber o mesmo tratamento que meus irmãos. Podia ir com meu pai ao mercado vestido de menino. Poderíamos caminhar quilômetros e quilômetros. Pegávamos ônibus para assistir esportes, eu tinha amigos na vizinhança e ficava o tempo todo brincando na rua”, lembra.

“Nunca me conectei com minhas irmãs. Nunca entendi como era o mundo delas. Eu nem sabia que as meninas menstruavam”, confessa.

 

Aos 13 anos, a vida de Nilofar voltou a mudar, após a aula de judô, veio a primeira menstruação. A jovem relembra que, naquele dia, viu sua mãe chorar e sentiu “tanta raiva por ser mulher que, à noite, chorava na cama”.

Alguns direitos começaram a chegar às mulheres, em 2001, quando um novo governo lutava para manter o controle, com isso, Nilofar pôde ir à escola.

O bom desempenho acadêmico de Ayoubi fez com que ela conseguisse estudar no exterior, na Índia. Depois, ingressou em um mestrado e se casou, em 2016, aos 19 anos.

Ao voltar para o Afeganistão, ela se tornou empreendedora e criou uma rede de lojas focada em empregar mulheres sem apoio financeiro de um homem.

*com informações de Metrópoles