
Sargento Salazar: fenômeno eleitoral ou nuvem passageira, ‘considerado’?

Não se fala em outra coisa nos bastidores da política amazonense: o vereador Sargento Salazar (PL) tem possibilidade de bater Amon Mandel (Cidadania), se tornar o deputado federal mais votado da história política do Amazonas e levar de carona para Brasília ao menos outros dois pefelistas.
Mas vale dar uma olhadinha na história das eleições no Amazonas neste século para ver o que aconteceu com os mais votados e antigos fenômenos eleitorais para saber qual rumo o Sargento Salazar irá tomar.
Em 2022 as urnas do Amazonas levaram a Brasília o deputado federal mais votado proporcionalmente do país, com 14,5% dos votos válidos. Amon, assim como sinaliza o Sargento Salazar, saltou da Câmara Municipal de Manaus (CMM) para um posto no centro do poder nacional.
Ele superou proporcionalmente a votação de Nikolas Ferreira (PL/MG), o mais votado daquela eleição no País em termos absolutos, com 1,47 milhões de votos (13.3% dos válidos em Minas Gerais).
Amom Mandel, com um tempo esquálido de televisão e massificando o bordão “Beba Água”, obteve 288.552 votos. Os analistas atribuíram a votação a massiva participação do deputado nas redes sociais, onde tem milhões de seguidores (assim como o Sargento Salazar).
Tudo isso, contudo, não foi suficiente para levá-lo a cadeira de prefeito de Manaus, posto que disputou dois anos depois e ficou em terceiro lugar (210.643 mil votos) após liderar as pesquisas de intenção de votos por dois anos seguidos.
Hoje, nenhum analista aposta que Amon vá “bisar” a votação recorde de 2022, mas certamente, com dez vagas disponíveis para a bancada do Amazonas, ele vai ser reconduzido a Brasília.
Quatro anos antes, em 2018, o campeão de votos foi o petista Zé Ricardo, hoje vereador a CMM. Zé Ricardo embalou a campanha dele usando uma kombi para fazer campanha em terminais de ônibus e feiras e assim garantiu uma vaga em Brasília com 197.270, 11,9% dos votos válidos.
A votação de Zé Ricardo foi ainda mais impressionante porque aconteceu exatamente durante a onda antipetista que tomou conta do eleitorado brasileiro e embalou a subida ao poder do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em cujo rastro se elegeram no Amazonas dois desconhecidos: Alberto Neto e delegado Pablo Oliva.
Quatro anos depois, em 2022, o fenômeno petista perdeu fôlego e com pouco mais de 80 mil votos não teve o mandato renovado. Ele esperou dois anos para retomar um mandato popular, dessa vez como vereador em Manaus, sendo o segundo mais votado, atrás exatamente do Sargento Salazar.
Político tradicionalíssimo, Arthur Bisneto (PSDB) foi o Amon da eleição de deputado federal em 2014. Embalado pelo apoio do pai, o então prefeito de Manaus Arthur Neto (PSDB), Bisneto obteve 250.916 votos, 15,3% dos votos válidos.
Quatro anos depois Bisneto saiu da política ao optar por chefiar a Casa Civil da prefeitura de Manaus e faleceu em Manaus, prematuramente, aos 44 anos, em maio do ano passado.
Em 2010, no auge de popularidade do petismo, o eleitorado amazonense enviou a Brasília como o mais votado o ex-vereador Francisco Praciano, que obteve naquela eleição 166.387 votos, 9,58% dos válidos.
Quatro anos depois, já com a onda anti-PT se agigantando na esteira das manifestações de junho de 2013, Praciano tentou uma vaga no Senado Federal, mas foi superado por Omar Aziz, que havia deixado o governo do estado com bons índices de aprovação.
Desde então, Praciano, usando a velha kombi e distribuindo panfletos em terminais e feiras, tentou voltar à Câmara Federal e uma vaga na Assembleia Legislativa, mas fracassou nas duas tentativas.
Na eleição de 2006 o deputado federal mais votado no Amazonas foi o apresentador de programas policiais Carlos Souza, que também tinha origem na CMM. Souza, que fazia dobradinha com o irmão Wallace, obteve 147.212 votos, o que representou 10,57% dos votos válidos.
Dois anos depois Carlos Souza se elegeu vice-prefeito de Manaus na chapa encabeçada por Amazonino Mendes. Ao longo do mandato a relação entre ambos se deteriorou e Carlos buscou um novo mandato de deputado federal em 2010.
Com um grande recall gerado pela agonia e morte do irmão, Wallace, em julho de 2010, Carlos Souza se reelegeu com 112 mil votos, 7,3% dos válidos. Foi a última vitória de um integrante do clã Souza. Hoje Carlos está fora da política.
Na eleição de 2002, o grande fenômeno foi Vanessa Grazziottin (PCdoB), que também iniciou carreira na Câmara Municipal de Manaus e naquele pleito buscava um novo mandato em Brasília.
Vanessa, fazendo política tradicional, obteve 197.419, o que representou 17,18% dos votos válidos. Proporcionalmente, até hoje, é a maior proporção de votos dados pelos amazonenses a um candidato a deputado federal.
Posteriormente, Vanessa foi senadora embalada pelas boas gestões petistas de Lula 1 e Lula 2, mas desde 2018 que não consegue obter vitórias nas urnas. Atualmente não cogita voltar a disputar uma eleição.
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Sargento Salazar vem de uma escola política conhecida
Na avaliação do cientista político Carlos Santiago, o eleitorado do Amazonas já elegeu vários campeões de votos para o parlamento, mas estes tiveram voos curtos quando confrontados com o palco nacional de Brasília ou quando buscaram um cargo executivo.
“Estes campeões vieram de campos ideológicos distintos, como Vanessa, Praciano e Zé Ricardo, políticos mais alinhados com a esquerda. Mas também tivermos Carlos Souza, Henrique Oliveira e Sabino Castelo Branco, de um campo oposto”, cita Santiago.
No entanto, ressalta o cientista político, essas vitórias não significaram na avaliação dele uma longa trajetória política no parlamento ou em cargos do Poder Executivo, pois não conseguiram ampliar o campo de votação, ficando restrito a um grupo específico do eleitorado.
“No caso de Salazar, ele parece que repetirá a trajetória de outros fenômenos. Principalmente por sua forma de atuação, que é muito restrita, usa um tipo de comunicação e uma abordagem até mesmo grosseira, é difícil alcançar outros voos, ampliar a votação deles”, completa Santiago.
O analista político e advogado Helso Ribeiro vê de maneira diferente a trajetória destes fenômenos eleitorais e na maioria dos casos não os considera “nuvem passageira”.
“Se pegarmos o Sabino e os Souza vamos ver que nao foram tão nuvem passageira, eles ficaram um bom tempo (na cena política). O Sabino elegeu o filho, a mulher e a ex-mulher, o Souza a mesma coisa. Nuvem passageira mesmo foi o Arthurzinho”, analisou Helso.
Sobre o sargento Salazar, Helso diz que não o conhecia, mas destacou que, sendo uma figura caricata, ele consegue trabalhar bem as redes sociais.
“Ele fa parte daquela ala que diz que veio para resolver, estilo dos Souzas e do Sabino. É delicado prever a longevidade de um político assim, ms em Brasília dificilmente ele se cria. Logo será relegado ao baixo clero e o que ele fará por lá dificilmente vai reverberar aqui”, analisa.