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Há um ano, crise de oxigênio marcava início da segunda onda de covid no Amazonas

Há um ano, crise de oxigênio marcava início da segunda onda de covid no Amazonas

Ivanildo Pereira
Por Ivanildo Pereira | 14 de janeiro de 2022

Há exatamente um ano, o Amazonas vivia uma das maiores crises de saúde da sua história, se não foi a maior: a chamada hoje de segunda onda da pandemia de Covid-19, provocada na época pela variante gama do coronavírus.

A gama foi contribuição brasileira ao catálogo de variações mundiais do Covid, surgida aqui pela confluência das aglomerações das festas de fim de ano e o negacionismo presente na sociedade, que já se preparava para baixar a guarda e minimizava a gravidade da doença. Imagens de covas coletivas em cemitérios, correria por cilindros de oxigênio e pessoas desesperadas em hospitais impressionaram o planeta. No primeiro trimestre de 2021, cerca de 6.600 pessoas morreram no estado, um dos maiores índices per capita do mundo.

Covas coletivas em Manaus

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O caos daqueles dias foi relembrado pelo assistente comercial Luciano Vilaça, 28. “Foi a pior experiência da minha vida”, disse Vilaça, cuja mãe de 65 anos contraiu a Covid. “Minha mãe ficou doente e decidimos tratar dela em casa, pois sabíamos que nos hospitais havia a crise do oxigênio”.

“Quando a doença se agravou, tivemos que recorrer ao oxigênio”, continuou Vilaça, “e encontramos nas empresas de O2 um cenário caótico. Tinha que ficar na fila por horas, às vezes até o dia todo. Uma bala [cilindro] de 10 litros durava um dia apenas, às vezes até menos. Ficamos uma semana recarregando as balas. Quando o médico disse que não haveria mais condições de tratar ela em casa, conseguimos interná-la no mesmo dia. Ela ficou na UTI por 24 dias”. A mãe dele sobreviveu, embora tenha ficado com um dos pulmões afetado pela doença.

Agora a história se repete: chega a terceira onda e os números impressionam. O número de casos confirmados passou de 37 em 1o. de janeiro, para 1.659 ontem, dia 13. Só no dia de ontem, a FVS (Fundação de Vigilância Sanitária) noticiou o diagnóstico de 2.404 novos casos no estado. É inegável agora que o Amazonas se encontra numa nova curva ascendente da doença, e até onde ela vai subir, é cedo para afirmar.

Se por um lado há um certo alento no momento atual em virtude de hoje termos vacinas que ajudam a mitigar a gravidade da situação, por outro velhos problemas persistem. O principal deles continua sendo o negacionismo: De novo, uma falsa sensação de segurança, de que a pandemia já tinha passado, prevaleceu e as aglomerações de fim de ano cobram seu preço. De acordo com dados da FVS, em relação à população vacinável no Amazonas, acima de 12 anos, 71,7% têm a cobertura vacinal completa. 98.868 pessoas com idade acima de 12 anos em Manaus não tomaram nem a primeira dose, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

O risco é para o colapso da rede hospitalar: Mesmo com o número de mortes em patamar baixo – no momento – é certo que a sobrecarga do sistema já começa a ser observada. Postos de testagem apresentam enormes filas. Alguns hospitais já começam a observar aumento expressivo na ocupação de leitos clínicos e de UTIs. Há preocupação com profissionais de saúde contraindo a doença e sendo forçados a deixar o trabalho. E nessa época do ano, também aumentam os casos de influenza e até de co-infecção com Covid.

O epidemiologista Jenssen Orellana, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) afirma que, com as internações nesse ritmo, “medidas urgentes e mais agressivas serão necessárias. Logo aumentarão as mortes evitáveis”. Agora é se preparar para a onda.

Com informações do UOL.