
Brasil volta à lista dos 20 países com o maior número de crianças não vacinadas

O Brasil voltou a figurar na lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas no mundo. Segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira (14/7) pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 229 mil crianças brasileiras estão vulneráveis a doenças evitáveis, um salto alarmante em relação às 103 mil registradas em 2023.
Essas crianças, muitas delas com menos de um ano de idade, não receberam sequer a primeira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche, a chamada DTP1, considerada um indicativo básico de acesso à imunização. Conhecidas como “crianças dose zero”, elas representam uma geração exposta, à mercê de doenças que já deveriam estar sob controle.
O Brasil, que havia deixado essa lista crítica em 2023 após avanços na cobertura vacinal, agora aparece na 17ª posição global. A reversão chama atenção especialmente porque a vacina está disponível na rede pública, ou seja, o problema vai além do acesso, envolvendo desinformação, falhas logísticas e abandono de campanhas de conscientização.
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De acordo com a OMS, a imunização incompleta contribui diretamente para a reemergência de surtos e sobrecarga do sistema de saúde. No cenário global, 14,3 milhões de crianças ainda não tomaram nenhuma vacina em 2024. Outras 5,7 milhões receberam apenas doses parciais.
Mesmo com avanços tímidos, como o crescimento da cobertura de HPV entre meninas adolescentes e o leve aumento na imunização contra o sarampo, os dados mostram que o ritmo é insuficiente para alcançar as metas da Agenda de Imunização 2030. Até agora, nenhuma das 17 vacinas analisadas mundialmente atingiu 90% de cobertura.
“Cada criança sem vacina é uma vida em risco”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Embora estejamos vendo sinais positivos, ainda há muito a ser feito. A desinformação e os cortes em investimentos públicos estão colocando décadas de progresso em xeque.”
No Brasil, um em cada três municípios enfrenta falta de vacinas, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. A ausência de doses, somada ao enfraquecimento das campanhas educativas e ao avanço das fake news, contribui para a piora no cenário — cuja consequência recai, sobretudo, sobre as crianças mais pobres e vulneráveis.
O recuo na imunização infantil é um alerta de que a proteção das novas gerações está em risco. E, diante desses números, é impossível ignorar que as vítimas têm nome, rosto e futuro — um futuro agora ameaçado por doenças que já deveriam ter sido superadas.
(*)Com informações do G1