Rede Onda Digital
Ouça a Rádio 92,3Assista a TV 8.2
Cérebro só ativa sistema imunológico ao observar doença, aponta pesquisa

Cérebro só ativa sistema imunológico ao observar doença, aponta pesquisa

Josemar Antunes
Por Josemar Antunes | 09 de agosto de 2025

Ao observar uma pessoa doente, o cérebro humano consegue ativar o sistema imunológico, antecipando uma possível infecção antes de qualquer interação física. A descoberta é resultado de uma pesquisa divulgada em 28 de julho na revista Nature Neuroscience, fundamentada em análises de sangue, tomografias e experimentos em realidade virtual.

Segundo o estudo, ao prever possíveis enfermidades, o sistema nervoso é capaz de desencadear a resposta imunológica antes mesmo do contato físico com os patógenos. Para compreender essa relação, voluntários saudáveis foram colocados em ambientes com avatares infecciosos, que podiam ser vistos por meio de óculos de realidade virtual.

Os participantes foram separados em três grupos. Para um deles, bonecos virtuais que exibiam sintomas como erupções cutâneas e tosse se aproximavam gradualmente, apesar de nunca os tocarem. Para outro, os personagens podiam ser “neutros” ou “amedrontadores”, porém estavam saudáveis. Não havia avatares para o terceiro, que foi vacinado contra a gripe, ou seja, exposto a um patógeno real controlado.

Os pesquisadores notaram que, quando há uma ameaça por perto, mesmo sem exposição direta, as redes cerebrais são acionadas para preparar o corpo para o perigo. Quando um avatar infeccioso se aproximava, o cérebro previa a ameaça e ativava, inicialmente, áreas relacionadas ao espaço pessoal — que atuam como um “alarme” para a região ao redor do corpo — para empregar estratégias como o distanciamento social como forma de proteção.

Em seguida, houve um aumento repentino nas ativações do grupo de regiões cerebrais responsáveis pelo reconhecimento de eventos significativos, como ameaças e reações a elas. A resposta específica à infecção diferiu da reação ao perigo representado por avatares que apenas provocavam medo.


Leia mais:

Especialistas alertam para o perigo de bactérias escaparem do intestino e se infiltrarem no cérebro

Eliminação das rugas: veja técnica caseira que melhora a pele de forma natural


De acordo com a Nature, um dos coautores do estudo, o neurocientista Andrea Serino, os resultados da pesquisa demonstram a capacidade do cérebro de “antecipar o que está ocorrendo e escolher a resposta apropriada”. Dessa forma, o corpo humano não aguarda o contato físico com germes para iniciar sua ação.

Um imunologista não envolvido na pesquisa declarou à publicação que a resposta é resultado de um esforço conjunto entre “dois dos sistemas mais complexos do corpo”, que “coordenam suas respostas porque ambos interagem com o ambiente e garantem proteção contra possíveis ameaças, como patógenos”.

Essa conexão ocorreria por meio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), funcionando como uma ponte que fornece resposta ao estresse e à regulação imunológica. Além disso, indica que os sistemas nervoso e imunológico estão mais interligados do que se imaginava, pois atuam em conjunto.

Como o sistema de defesa nem sempre atua de forma rápida o bastante para evitar doenças graves, seria interessante investigar a possibilidade de uma resposta antecipada por meio da detecção de ameaças visuais pelo cérebro. Dessa forma, com base nas descobertas, é possível melhorar as vacinas e usar a realidade virtual para intensificar a ativação das células que precisam ser imunizadas, tornando-as mais eficazes.