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Contrato de R$ 1,4 milhão em Carauari levanta suspeitas sobre transparência e critérios da gestão

Contrato de R$ 1,4 milhão em Carauari levanta suspeitas sobre transparência e critérios da gestão

Lucas Costa
Por Lucas Costa | 10 de julho de 2025

A Prefeitura de Carauari (a 1.150 km de Manaus), homologou no último dia 25 de junho um contrato milionário com a empresa Lusada Construção e Comércio de Materiais de Construção LTDA, no valor de R$ 1.437.319,39, para a ampliação da Unidade de Atenção Especializada em Saúde no município. O documento, assinado pelo prefeito José Airton Freitas Siqueira (MDB), afirma que todos os trâmites da licitação foram cumpridos e que não houve impugnações ao processo. No entanto, a contratação levanta dúvidas sobre a lisura e os critérios adotados pela administração.

A obra será executada com recursos oriundos do Ministério da Saúde, por meio do Convênio nº 948590/2023, firmado com o município. A licitação, realizada na modalidade de Concorrência Pública nº 001/2025, teve como vencedora a empresa Lusada, que, segundo levantamento prévio, possui histórico de contratos com prefeituras do interior do Amazonas, o que por si só não indica irregularidade, mas exige maior atenção à transparência e ao controle social.

Histórico da empresa e contratos anteriores

A Lusada Construção aparece em outros processos licitatórios no interior do estado, inclusive em municípios sob investigação por suspeitas de superfaturamento e favorecimento em obras públicas. Até o fechamento desta reportagem, não há comprovação de que a empresa esteja envolvida em irregularidades em Carauari, mas a repetição de seu nome em diferentes gestões levanta sinais de alerta, especialmente diante da ausência de divulgação detalhada dos documentos do processo licitatório no portal da transparência do município..


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Falta de detalhamento e controle social

Apesar do alto valor da obra — quase R$ 1,5 milhão — não foram divulgadas informações detalhadas sobre o projeto de ampliação, como escopo da obra, prazos, metragem ou metodologia de fiscalização. O despacho de homologação apenas informa que se trata da ampliação da Unidade Especializada em Saúde, sem maiores especificações.

Organizações locais de controle social e moradores cobram maior abertura do processo. “Não sabemos exatamente o que vai ser feito, quanto tempo vai durar a obra, nem se foi feita vistoria técnica. O povo de Carauari merece mais transparência”, afirmou um líder comunitário da área de saúde, que pediu para não ser identificado por temer retaliações.

Outros processos investigados

A atual gestão também enfrenta críticas em outras frentes. Moradores relatam atrasos em obras e falta de prestação de contas em contratos anteriores. Em 2024, o Ministério Público do Estado abriu uma investigação preliminar sobre possíveis irregularidades em licitações para fornecimento de merenda escolar e transporte urbano no município, mas os processos ainda estão em fase inicial e sob sigilo.

A contratação da Lusada para uma obra de valor elevado, sem ampla divulgação dos detalhes técnicos e com um histórico que merece atenção, reforça a necessidade de maior fiscalização sobre o uso de verbas públicas federais no município. A Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF) podem ser acionados para analisar o convênio e verificar a correta aplicação dos recursos da saúde.

Enquanto isso, a população de Carauari segue cobrando transparência, clareza nos contratos e participação social nas decisões públicas, especialmente quando envolvem verbas milionárias e serviços essenciais.

População pequena, território imenso: o contraste de Carauari com Manaus

Apesar de ser um dos maiores municípios em extensão territorial do Amazonas, Carauari abriga uma população de apenas 30.892 habitantes, conforme dados do IBGE de 2024. Seu território, de 25.778,7 km², é maior que o de estados como Sergipe, mas sua densidade populacional é baixíssima: pouco mais de 1 habitante por km².

O contraste com a capital do estado. Manaus, é expressivo. Com 2,28 milhões de habitantes espalhados por 11.401 km², a capital amazonense tem uma densidade demográfica de aproximadamente 181 hab/km² — cerca de 150 vezes mais concentrada do que Carauari.

Esse cenário evidencia os desafios enfrentados por municípios do interior amazônico: extensão territorial gigantesca, população dispersa e dificuldades logísticas para entrega de serviços públicos. Obras como a ampliação da Unidade de Atenção Especializada em Saúde, portanto, precisam ser planejadas com responsabilidade e transparência, considerando tanto o custo elevado quanto o acesso limitado a muitas comunidades.