
ILOVEYOU: relembre um dos vírus de computador mais perigosos dos anos 2000

Imagine você no ano 2000. Você chega no trabalho, liga seu computador e checa seus e-mails. Entre eles, um em específico chama atenção; uma mensagem com o título “ILOVEYOU”. Você logo fica curioso de saber quem estaria lhe mandando algo tão romântico. Seria aquela pessoa que você sempre gostou em segredo? A curiosidade vence e, sem pensar muito, você clica no anexo “LOVE-LETTER-FOR-YOU.TXT.VBS”.

Mas o que parecia uma mensagem romântica era, na verdade, um golpe. Ao abrir o arquivo, sem perceber, você acaba espalhando esse “eu te amo” virtual para todos os seus contatos. E, pior: seu computador começa a apagar arquivos, fotos, músicas e documentos importantes.
Esse foi o começo do caos causado por um dos vírus mais famosos da história da internet: o ILOVEYOU.
Um surto digital
O ILOVEYOU não foi o primeiro vírus a circular por e-mail, mas certamente foi o mais destrutivo do seu tempo. Em poucos dias, milhões de computadores ao redor do mundo foram infectados. Empresas, órgãos do governo e pessoas comuns tiveram seus sistemas comprometidos. Servidores de e-mail ficaram sobrecarregados com tantas mensagens falsas, e muitas empresas precisaram desligar tudo para conter o estrago.

Mas como ele funcionava? O vírus se aproveitava de um truque simples: usava um arquivo que parecia um texto inofensivo, mas na verdade era um programa disfarçado. Como o Outlook não alertava sobre esse tipo de arquivo, os usuários clicavam sem saber o perigo que estavam correndo. A engenharia social também foi essencial no golpe, uma vez que a expectativa de estar recebendo uma declaração de amor cegava a vítima para o perigo do arquivo.
Não era a primeira vez
Antes disso, em 1995, um vírus chamado Concept usou uma função chamada macro (pequenos programas dentro de arquivos do Word) para mostrar mensagens chatas toda vez que um documento era aberto. Depois, em 1999, o Melissa foi além: usava o Outlook para enviar cópias de si mesmo para dezenas de contatos da vítima.
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O ILOVEYOU foi a evolução dessa ideia. Além de se espalhar por e-mail e por programas de bate-papo, ele também instalava um programa espião que roubava senhas e corrompia arquivos como músicas e imagens. Tudo isso com apenas um clique.
A resposta demorou
Mesmo com o estrago, a Microsoft só lançou uma correção mais de um mês depois do surto, em junho de 2000. A empresa sempre priorizou a facilidade de uso, mesmo que isso deixasse o sistema mais vulnerável. Só depois da crise foi que ela passou a bloquear certos arquivos e a mostrar alertas quando um programa tentava enviar e-mails automaticamente.
Esse episódio marcou uma virada na forma como a segurança digital passou a ser tratada pelas empresas de tecnologia.
Quem criou o vírus?
O autor do ILOVEYOU foi um estudante filipino de 24 anos chamado Onel de Guzman. Ele criou o vírus com o objetivo de roubar senhas de internet, que eram caras na época. O envio em massa dos e-mails não fazia parte do plano original.

Naquela época, nas Filipinas, ainda não existia uma lei para punir crimes cibernéticos, então ele nunca foi preso. Em 2020, ele foi encontrado por jornalistas e contou que nunca ganhou dinheiro com o vírus. Hoje, trabalha em uma pequena loja de conserto de celulares em Manila.
O legado do “eu te amo” virtual
O ILOVEYOU infectou cerca de 10% de todos os computadores conectados à internet naquela época e causou prejuízos estimados em 10 bilhões de dólares. A partir dali, antivírus ficaram mais eficazes, as atualizações de segurança começaram a ser mais rápidas, e as empresas passaram a se preocupar de verdade com proteção digital.
Mas talvez a maior lição tenha sido: até uma simples mensagem de amor pode esconder um grande problema na internet.