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Com 346 votos, Câmara aprova urgência para projeto que derruba aumento do IOF

Com 346 votos, Câmara aprova urgência para projeto que derruba aumento do IOF

Otávio Vislley
Por Otávio Vislley | 17 de junho de 2025

A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta segunda-feira (16/6), por 346 votos a 97, o regime de urgência para o projeto de lei que visa derrubar o novo decreto do governo federal sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A aprovação da urgência acelera a tramitação do projeto, permitindo que ele seja analisado diretamente no plenário da Casa, sem a necessidade de passar antes pelas comissões temáticas.

Na prática, essa decisão do plenário representa um revés político para o governo federal, que já vinha enfrentando forte pressão de parlamentares e do mercado financeiro desde que anunciou, ainda em maio, o aumento das alíquotas do IOF para operações financeiras envolvendo investimentos no exterior.

O decreto contestado é o terceiro editado pelo Executivo sobre o tema em menos de dois meses — uma “recalibragem” que tenta ajustar as mudanças fiscais frente à repercussão negativa e à resistência no Congresso.


Saiba mais:


Votação dividida

Na votação que aprovou o regime de urgência, apenas o PSB e a federação formada por PT, PC do B e PV orientaram suas bancadas a votar contra o requerimento. Curiosamente, a liderança do governo e a da maioria liberaram as bancadas, uma indicação clara de que o Executivo não conseguiu mobilizar apoio suficiente para conter a insatisfação generalizada.

A decisão de pautar o requerimento de urgência foi costurada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em reunião com líderes partidários. Na véspera da votação, o governo tentou uma manobra de última hora para evitar o desgaste: os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) estiveram reunidos com Motta na tarde de segunda-feira, acompanhados por líderes de partidos aliados e pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Apesar do esforço, Motta sinalizou publicamente que o governo estava ciente da insatisfação entre os deputados e reiterou o compromisso do Executivo em apresentar uma agenda de cortes de despesas. Para ele, a votação da urgência sobre o IOF seria simbólica para medir o “sentimento da Casa”.

“Essa votação de hoje [da urgência sobre o IOF], na minha avaliação, será muito simbólica sobre o sentimento da Casa e vamos aguardar quais serão os próximos passos”, declarou Motta a jornalistas logo após o encontro.

O deputado Hugo Motta, o presidente da Câmara dos Deputados
O deputado Hugo Motta, o presidente da Câmara (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

Oposição pressiona para votar mérito ainda esta semana

Com o regime de urgência aprovado, o próximo passo é a análise do mérito do projeto, ou seja, a decisão definitiva sobre derrubar ou não o decreto presidencial que elevou o IOF. Inicialmente, parte da oposição tentou incluir essa votação já na sessão desta segunda-feira, mas um acordo interno adiou a decisão.

Segundo apurou a CNN, a oposição aceitou conceder mais prazo ao governo para que sejam apresentadas medidas alternativas de redução de gastos públicos. Mesmo assim, o líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), adiantou que continuará pressionando para que o mérito seja votado ainda antes do recesso parlamentar do meio do ano.

“A gente quer que haja sim uma clara e evidente ação de corte de gastos […] Vamos inclusive propor para que possamos avançar nesse mérito ainda antes do recesso do meio do ano. Se possível, votar amanhã”, afirmou Zucco a jornalistas, revelando que o grupo se reunirá com Hugo Motta na manhã de terça-feira (17) para tentar definir uma data para a votação final.

Para que o decreto seja, de fato, revogado, o projeto precisa ser aprovado na Câmara e também passar pelo crivo do Senado Federal.

O vaivém do governo com o aumento do IOF

O aumento no IOF foi anunciado oficialmente em 22 de maio pelo Ministério da Fazenda. A proposta visava ampliar a arrecadação federal para compensar déficits orçamentários, com impacto estimado em R$ 18 bilhões em 2025 e R$ 37 bilhões em 2026.

No entanto, no mesmo dia do anúncio, a equipe econômica enfrentou forte reação do mercado financeiro e de empresários, o que forçou um recuo parcial: o governo decidiu suspender o aumento do IOF para investimentos de fundos nacionais no exterior, uma medida que foi considerada essencial para reduzir a pressão negativa nos ativos brasileiros.

Apesar do recuo, a insatisfação continuou. Diante do impasse, o governo publicou na semana passada um novo decreto, com ajustes na “recalibragem” das alíquotas do IOF. Esse decreto é justamente o alvo do projeto que agora tramita em regime de urgência na Câmara.

Com a nova versão, a expectativa de arrecadação caiu drasticamente: de até R$ 37 bilhões na proposta inicial, o impacto fiscal passou a ser estimado em cerca de R$ 7 bilhões. Ainda assim, o número oficial não foi confirmado pelo Ministério da Fazenda.