
Carla Zambelli pode levar meses para ser capturada, afirma embaixador do Brasil na Itália

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por crimes cibernéticos, segue foragida na Itália, e sua captura pode demorar meses, segundo o embaixador do Brasil em Roma, Renato Mosca.
Em entrevista ao portal UOL, Mosca esclareceu detalhes do processo de extradição, apontando que ele pode se arrastar por até um ano, e destacou que, apesar da repercussão do caso, trata-se de um procedimento comum previsto em acordos internacionais.
Zambelli foi condenada em 14 de maio de 2025, por unanimidade (5 votos a 0), pela Primeira Turma do STF, por ordenar a invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Pouco antes de a ordem de prisão ser expedida, ela embarcou rumo à Itália. Segundo registros, a deputada entrou no país europeu no dia 5 de junho. Nesse mesmo dia, seu nome foi incluído na lista de difusão vermelha da Interpol, usada para localizar e prender criminosos procurados internacionalmente.

No entanto, até o momento, não há informações concretas sobre o paradeiro de Carla Zambelli, que está sendo procurada pela polícia italiana. De acordo com o embaixador Mosca, “ela se encontra foragida. Depois de quase três semanas, não se tem ainda nenhuma informação concreta da localização dela”.
Ele relatou que surgiram informações sobre a possível permanência da deputada e de seu marido, o coronel Aginaldo Oliveira, secretário municipal de Caucaia (CE), em Roma e, posteriormente, em Nápoles, mas nenhuma das hipóteses foi confirmada.
Saiba mais:
- Hacker condenado com Zambelli joga bola com Robinho no “presídio das estrelas”
- Por e-mail, CCJ notifica Carla Zambelli sobre processo de cassação
Pedido de extradição já foi formalizado
O governo brasileiro, por meio da embaixada em Roma, entregou o pedido formal de extradição ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália no dia 12 de junho. No entanto, segundo Mosca, o processo depende de uma série de etapas e pode se estender por muito tempo.
“Isso pode se arrastar por meses, e é normal que seja assim, porque tudo obedece a um rito da legislação e um amplo direito de defesa“, afirmou o embaixador.
Ele explica que o processo de extradição é jurídico e político, e que há precedentes em que a Justiça italiana deu parecer favorável com possibilidade de recurso, o que prolonga ainda mais o trâmite.
“Está absolutamente dentro dos padrões. Isso pode levar 30, 60, 90 dias ou até mais”, pontuou.
Mosca esclareceu ainda que após uma eventual prisão, a Justiça italiana deverá avaliar o crime pelo qual a deputada foi condenada, além de solicitar garantias do Brasil quanto às condições carcerárias, direitos e tratamento que serão assegurados à parlamentar.
“Não há uma previsão de tempo para isso. Vai depender do andamento judicial italiano”, disse.
Carla Zambelli precisa ser presa em local público
Outro fator que dificulta a captura imediata de Carla Zambelli é o fato de não haver um mandado de busca e apreensão emitido contra ela. Isso significa que ela não pode ser detida dentro de sua residência, apenas em locais públicos.
“Enquanto ela estiver em locais que representem o seu domicílio, ela não pode ser presa. Mas identificar esse local já seria muito importante, e abriria caminho para solucionar o impasse”, explicou Mosca.

Ele ressaltou que, quando um foragido é capturado na Itália, a polícia imediatamente comunica à embaixada brasileira que a pessoa está sob custódia. Nesse caso, é reconfirmado o pedido de extradição, e o indivíduo permanece detido na Itália enquanto o processo tramita. Caso a extradição seja autorizada, a pessoa retorna ao Brasil para cumprir pena, com direito a advogado, recurso e demais garantias constitucionais.
Não há lentidão no processo, afirma embaixador
O embaixador fez questão de negar que haja lentidão no caso da deputada, afirmando que o procedimento está sendo conduzido com a mesma atenção dedicada a outros casos semelhantes.
“Temos outros 15 processos de extradição pendentes tramitando na embaixada”, revelou.
Ele destacou que a diferença neste caso está na notoriedade da pessoa envolvida, o que acaba gerando maior repercussão.
“As pessoas tendem a focar nessa captura por ser uma pessoa pública, mas está dentro dos padrões”, reiterou.
O diplomata também enfatizou que o empenho da embaixada é o mesmo em todos os casos, independentemente da projeção midiática.
Relação Brasil-Itália e risco de politização
Indagado sobre um possível risco de politização no processo de extradição, tendo em vista que Carla Zambelli é aliada da extrema direita no Brasil, enquanto a Itália é governada pela premiê Giorgia Meloni, também de direita, Mosca disse estar confiante de que o acordo de extradição entre os dois países será cumprido.
“O processo é jurídico e técnico, e será decidido pelas autoridades judiciais italianas. O parecer judicial será muito importante. Depois, sim, há um crivo político no Ministério da Justiça italiano, e, em última análise, no governo italiano”, detalhou o embaixador.
Mosca também rejeitou o argumento de que a dupla nacionalidade da deputada — brasileira e italiana — poderia impedir a extradição, destacando que há precedentes de brasileiros com dupla cidadania que foram extraditados para cumprir pena no Brasil.
Para o embaixador, é essencial separar o processo jurídico da narrativa política, a fim de evitar que o caso seja utilizado como instrumento de polarização.